Raquel Montero - Advogada em Ribeirão Preto

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Das marretadas que envergonham Nogueira

03/08/2021

Foto: Reprodução

 

 

Estamos vivendo sob pandemia pelo Coronavírus há mais de um ano. Da pandemia decorre estado de calamidade pública, reconhecido oficialmente por todas as esferas de governo do nosso País. Ribeirão Preto é mais uma cidade que reflete e vivencia está situação.

 

A situação se agrava com o frio, que não tem culpa de nada disso, faz parte da natureza e é necessário na renovação das estações. Reconhecendo esse agravamento, a Prefeitura de Ribeirão Preto está fazendo campanhas de recebimento de agasalhos e cobertores, e fazendo rondas durante a noite para atender pessoas que estejam em situação de rua e dar-lhes alimentos e os agasalhos e cobertores doados.

 

Ao mesmo tempo que faz essa campanha, no entanto, a mesma Prefeitura, governada pelo Prefeito Duarte Nogueira, do PSDB, também realiza despejos de famílias inteiras que estão em áreas ocupadas por favelas, e áreas essas que até antes da ocupação pelas pessoas, estavam abandonadas, sem função, só acumulando mato e lixo. Esse é um grande problema desta cidade rica, que convive com cerca de 100 núcleos de favelas e cerca de 44 mil pessoas vivendo em favelas em decorrência da ausência de política habitacional do Município de Ribeirão Preto que abranja toda a população, ou alguém pensa que se escolhe, por opção, viver em favela?

 

Sob a mesma pandemia, sob a mesma calamidade pública, sob o mesmo frio, sob o mesmo desemprego, sob a mesma fome, sob a mesma falta de habitações sociais, o Prefeito Nogueira faz, com uma mão, campanha para arrecadar agasalhos e cobertores, reconhecendo, portanto, toda essa situação de calamidade, de pobreza e de vulnerabilidade social, e, com a outra mão,  Nogueira desabriga pessoas, despejando-as na rua, à própria sorte.

 

A História é feita de fatos e uma das formas de contar os fatos que tecem a História é através da imagem de atos. A imagem, além de resumir com eloquência os acontecimentos em um registro, também, com eloquência, evidencia contradições. Por isso que a melhor forma de falar, é fazer, e por isso também que se quisermos saber se alguém está dizendo a verdade, devemos prestar mais atenção em seus atos do que em suas palavras.

 

E sobre fatos que vão dando continuidade à História, e evidenciando verdades, talvez um dos mais contundentes dos últimos tempos, e que sem dúvida será lembrado por gerações, seja a imagem do Padre Júlio Lancelotti quebrando a marretadas as pedras pontiagudas colocadas embaixo de viadutos pela Prefeitura de São Paulo para impedir que pessoas em situação de rua se abrigassem nesses locais. As pedras foram colocadas em Fevereiro de 2021, durante a situação de pandemia pelo Coronavírus e calamidade pública decorrente da pandemia, e sob a gestão do, até então, prefeito Bruno Covas,  do PSDB, falecido em Maio de 2021 em decorrência de câncer.

 

Padre Júlio disse na época; "Indignação diante da opressão. Marretada nas pedras da injustiça."

 

Tanto a imagem das pedras embaixo dos viadutos, quanto a imagem do Padre Júlio as quebrando a marretadas, causou grande repercussão negativa para a Prefeitura de São Paulo, fazendo com que a Prefeitura emitisse nota informando que ia retirar as pedras e exonerar o funcionário que as colocou, atribuindo, assim, a ação, a ato supostamente individual de um funcionário público, e não da Prefeitura de São Paulo.

 

Padre Júlio agiu de imediato diante do que chamou de injustiça. E no ato de combater a injustiça, agiu publicamente e com a coragem decorrente daquele que tem convicção de estar fazendo o certo, o justo.

 

Já o Prefeito Nogueira demonstra ele mesmo se envergonhar de seu ato, ou você o viu falar alguma vez das marretadas que ele, como prefeito, autorizou que fossem dadas para que barracos de favelas fossem destruídos e famílias inteiras despejadas nas ruas? E além de não falar desses atos, também não tem a coragem de aparecer nos locais onde eles acontecem, delegando o "serviço" à Polícia Militar e tratando uma política pública, ou a falta dela, como caso de polícia.

 

Raquel Montero

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