Raquel Montero - Advogada em Ribeirão Preto

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UM PREFEITO DE ARARAQUARA PARA CHAMAR DE SEU

20/04/2021

Foto: Reprodução

 

 

Em Março de 2021 completamos um ano de pandemia por Covid-19 no Brasil. Quando ela começou esperávamos que a superaríamos logo. Apoiávamos nossa crença não só no otimismo que é peculiar ao povo brasileiro, mas, também, em fatores concretos; a estrutura do Sistema Único de Saúde (SUS), a experiência de sucesso em epidemias de escala global como a H1N1 baseadas na existência de planos nacionais de combate ao vírus que tiveram como uma das estratégias o exemplo de governantes e o estímulo ao engajamento da sociedade.

 

Mas no caminho tinha outras pedras... 

 

Teve, ainda, o desmonte e o sucateamento do SUS, que começou na aprovação da Emenda Constitucional nº 95 de 2016 que congelou por 20 anos os investimentos no SUS, aprovada em 2016 também com os votos de Jair Messias Bolsonaro, Duarte Nogueira (prefeito da cidade de onde parte esse texto) e Luiz Henriqueta Mandetta, todos deputados federais na época, e com a pandemia, contraditoriamente, ou de maneira hipócrita, recorreram ao SUS para obter soluções e combater a pandemia.

 

Teve, também, o boicote do Presidente Bolsonaro às medidas sanitárias e de saúde mundialmente reconhecidas e propagadas pela Organização Mundial da Saúde (OMS) para o combate a pandemia, dentre elas, o isolamento social e o uso de máscara, assim como o negacionismo de Bolsonaro diante da gravidade e do potencial do vírus, sempre repetindo que se tratava de uma "gripezinha". Teve a completa incapacidade do Ministério da Saúde de Bolsonaro em estabelecer um plano de ação e coordenar nacionalmente o processo de combate ao vírus.  

 

Nesse cenário não tardou em o Brasil se transformar no epicentro da pandemia. São mais de 375 mil mortes ocorridas no Brasil em decorrência da pandemia, por seguidos dias atuais o Brasil registrou mais de 04 mil mortes por dia passando a liderar mundialmente a quantidade de mortes diárias.

 

Mas esse é o cenário decorrente da estupidez do negacionismo, do boicote às medidas de proteção e da incompetência na construção e gestão de um plano de ação de combate ao vírus. Em outro cenário, é possível outras consequências, e é a experiência que permite afirmar isso.

 

Nesse sentido temos o caso que está sendo repercutido nacionalmente como um exemplo em resultados positivos no combate a pandemia. Se trata do Município de Araraquara, no interior do Estado de São Paulo, com 238 mil habitantes, gerido pelo Prefeito Edinho Silva do PT.

 

Em Araraquara, desde Março de 2020, início da pandemia, portanto, foi estabelecido pelo Prefeito Edinho um plano de ação para conter o avanço do vírus. Já no Brasil, até hoje não existe um plano nacional de enfrentamento ao vírus. As medidas do plano de ação de Araraquara abrangem, dentre outras, um hospital de campanha, uma central de internação, centros de atendimento exclusivos para pacientes sintomáticos, parceria com a UNESP de Araraquara para auxílio em testagem e vacinação, programas de telemedicina para monitoramento de pacientes infectados que estão em casa, equipes médicas de consulta domiciliar, centros de inteligência de Covid-19 que organiza e divulga diariamente  dados sobre contaminação, disponibilidade de leitos e perfil de doentes e casos fatais, equipes de bloqueio que coloca em quarentena os infectados e familiares, rede de solidariedade com distribuição de kits de higiene pessoal e cestas básicas para famílias em situação de vulnerabilidade, bolsa cidadania para famílias em situação de extrema vulnerabilidade (mães que são arrimo de família, em situação de cárcere, pessoas idosas, mulheres grávidas),  pessoas apoiadoras do combate ao covid-19 contratadas pela prefeitura com dispensa de concurso público para trabalho temporário, Guarda Municipal para auxiliar na orientação da população para que as pessoas fiquem em casa.

 

O lockdown foi aplicado em Araraquara em Fevereiro de 2021, quando houve um aumento abrupto da curva de notificação e a identificação na cidade da circulação da cepa P1 de Manaus.

 

Após o lockdown aplicado, somado às outras medidas já executadas em Araraquara, houve queda de 58% na média móvel diária das pessoas contaminadas. As internações caíram 31%, e o número de óbitos, 40%. A testagem indicou queda de 71% no número de pessoas contaminadas. No 17º dia não havia paciente aguardando leito para ser internado. Esses dados indicam sucesso do modelo de isolamento da circulação de pessoas combinado com a coordenação de diferentes áreas técnicas da gestão municipal.

 

Alguma semelhança com a gestão nacional (ou ausência dela) feita por Bolsonaro?

 

Araraquara é um município dentre os 5.570 municípios brasileiros existentes, e dentre todos os municípios brasileiros, Araraquara se destaca como um exemplo de gestão municipal com resultados positivos e exitosos no combate a pandemia. O que ocorreu lá, poderia ocorrer no resto do Brasil, se, claro, houvesse um plano nacional de ações no combate a pandemia para auxiliar e coordenar todos os municípios.

 

O que ocorreu em Araraquara, portanto, é decorrente de mérito da gestão municipal, já que Bolsonaro deixou prefeitas/prefeitos, governadores e a única governadora do Brasil a mercê da própria sorte no combate a pandemia no Brasil. 

 

O que quer que se faça, é preciso ter estratégia, e, nesse caso, além de estratégia, é preciso ter também conhecimentos técnicos e científicos. Tudo que o Governo Bolsonaro não tem. Assim, o caos que estamos vivendo no Brasil referente a pandemia, não é obra do acaso ou de fatalidade. Sua causa tem nome e sobrenome; Jair Messias Bolsonaro.

 

Raquel Montero

 

Foto de Capa: Reprodução

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