Raquel Montero - Advogada em Ribeirão Preto

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Brinquedo de menina e brinquedo de menino. Ainda existe essa bobagem?

24/05/2020

 
 
Artigo também publicado pelo Jornal Tribuna na sua edição do dia 27.05.2020. No Tribuna o artigo também pode ser acessado pela internet através do link:
 
 
Foto: Reprodução
 
 
 
 
Determinadas construções são feitas social e culturalmente. Maternar, faxinar, cozinhar, são atividades humanas e podem ser feitas por meninos e meninas desde a primeira infância. Mas não é isso que a sociedade prega e propaga. Lembrando que a sociedade somos nós, cada pessoa que a compõe.
 
Por que bonecas são dadas apenas para meninas para elas brincarem de ser "mãe" se tanto mulher quanto homem podem ter filhos? Por que só a menina pode brincar de ser "mãe" e menino não pode brincar de ser "pai"? Por que o carro de bombeiros é dado só para meninos se tanto homem quanto mulher podem ter essa profissão? Por que a cozinha, a panela, a vassoura, é um brinquedo que só é presenteado a meninas? Meninos não comem e não limpam a casa?
 
Drauzio Varella, escrevendo sobre o comportamento humano em seu livro Borboletas da Alma - Escritos sobre Ciência e Saúde (2.006, pag. 88), explicou que as informações científicas acumuladas nos últimos trinta anos permitem afirmar que o comportamento humano é resultado de interações sutis entre genes, fatores ambientais e experiências vividas. Explicou, também, que a característica mais importante do sistema nervoso é sua plasticidade, isto é, a capacidade que os neurônios têm de estabelecer conexões moldadas pela experiência.
 
Portanto, fatores ambientais e experiências vividas formam o comportamento humano, e os estímulos e aprendizados recebidos numa fase em que o cérebro está sendo esculpido pela experiência induzem uma cascata de eventos, de informações captadas, de cultura, de aprendizado. Olha a importância e influência das experiências, dos fatores ambientais e dos estímulos na formação do comportamento humano.
 
Para o assunto que estamos tratando qual o impacto desses estímulos ocorridos nas brincadeiras das crianças na formação dessas mesmas crianças? Segundo dados da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico (OCDE) mesmo em países desenvolvidos as mulheres gastam quase o dobro do tempo que os homens em serviços domésticos e trabalho não remunerado (faxinar e cuidar de filhos seriam dois desses trabalhos sem remuneração que as mulheres fazem a mais que os homens). E as mulheres fazem isso mesmo tendo uma jornada de trabalho remunerada similar à dos homens: homens trabalham oito horas em média e mulheres sete horas e 45 minutos. A diferença é que desse conjunto de horas os homens trabalham 02 horas e 21 minutos sem remuneração e as mulheres 04 horas e 30 minutos.
 
No Brasil, segundo dados do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA) essa diferença é ainda maior; as mulheres brasileiras gastam em média 26,6 horas semanais com trabalho doméstico enquanto os homens dedicam apenas 10,5 horas.
 
Enquanto meninas ganham só bonecas e meninos ganham laboratórios de química para brincar, o Censo Escolar de 2.001 mostra que 60% das pessoas graduadas são mulheres, sendo que na Ciência apenas 43% das pessoas tituladas na área são mulheres, e a titulação feminina vem caindo, sendo 39% em 2.004 e 37% em 2.008. Em cursos como Física, na maioria dos países, a participação das mulheres é de cerca de 10% a 12%.
 
A infância e a adolescência são fases que estão sob a responsabilidade de pais e ou mães para insculpi-las no sentido de proporcionar seu correto desenvolvimento para que, após essas fases, essas pessoas, meninos e meninas, que se tornarão pessoas adultas, tenham escolha e possam escolher bem o que querem ser e os sonhos que querem realizar. É nessa fase que se pode e deve dar os estímulos e proporcionar boas experiências, e ensinar dois valores que tanto admiramos:  igualdade e liberdade. Igualdade no tratamento, na criação, nos estímulos. Liberdade para deixar a pessoa ser quem ela quiser e sonhar. Sonhar alto!
 
Para essa igualdade e essa liberdade é urgente que reinventemos o brincar. Não existe brinquedo só de menino e brinquedo só de menina. Existe o "brincar".
 

       Raquel Montero 

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